quarta-feira, 28 de maio de 2014



Prece


( dedicado a Marcelo Briotto, poeta de ação e letra)
(ler em silêncio)

Maria Cláudia S. Lopes

            Sexta. Dia de faxina, eu vazando. Queria falar sobre as dores remitentes: as físicas, as anímicas, as dores do espírito, as que nos ensinam e nos perturbam como fantasmas particulares. Que coisa mais mórbida, é quase noite de sexta e você aqui na companhia deste texto? É feio falar sobre dores em dia de sexta, dia de Oxalá meu pai, dia de usar branco e pensar em coisas boas e afirmativas. Mas quem sabe a minha dor, alcance a sua e te faça saber que é justo falar das dores.
            Houve um tempo em que as dores eram só parte da vida, e podiam ser confessadas, e podíamos dividi-las sem nos envergonhar. Essa semana ouvi algo sobre a dor e fiquei me perguntando: são todas as dores, dores de parto? E é preciso que aceitemos o que elas querem no ensinar e só então deixamos de tê-las? Como é possível que a gente aceite uma dor? Não gosto de dizer “tenho”, pois “ter” uma dor é algo que exige muita responsabilidade e um apego que julgo desnecessário. Mas há uma dor que me visita e que me faz sentir uma falta de esperança muito grande, porque ela me faz lembrar a DOR, das dores, de todas as dores do mundo, das dificuldades, dos desafios que impedem o nosso caminhar em direção ao crescimento. “Eu quero vicejar, não apenas sobreviver” ( li também essa semana). Ela me faz pensar no que fiz para merecê-la? Bem, ela também me faz pensá-la como oportunidade de cura, ela também me faz pensá-la como mistério inominável da vida, ela me faz lembrar de outras dores que once eu julguei que nunca iriam embora e que se transformaram em alegrias, ela me faz pensar em meu pai.
            Tenho uma prece a fazer, no dia de hoje. Que ela seja ouvida por todos os corações. Dor não pega, cada um tem a sua, mas às vezes perto de uma dor que não é bem nossa, sentimos muita dor. A minha avó se chamava Maria das Dores e eu sempre tive receio de chamá-la assim. Tenho uma prece pensada, falada, cantada, feita, e ela parte dessa minha dor remitente, às vezes intermitente...eu espero que ela seja capaz de reavivar para todos os dias a crença de que mesmo doendo a vida vale a pena.
            Pai Celestial, Mãe Divina, santos de todas as religiões. Que eu consiga olhar para as dores do mundo, as minhas e as do outro como parte da beleza e dos partos que vivemos em vida. Que ao em vez de me enfraquecer diante dela eu possa abrandá-la com entendimento, com amor, gratidão, sabendo que tudo se transforma do tempo do amadurecimento de cada dor. Que ao em vez de me abater e me entristecer eu possa cantar uma canção de ninar, para a nova criança que chega, dando espaço às transformações necessárias, mesmo que ela volte eu possa saber que ainda tenho a aprender com ela, e que não permita, pai, mãe, não permita que ela me prive de todas as outras belezas e alegrias presentes em minha vida. Peço coragem, força e alegria incondicionais, peço sorte e proteção.

            Tenho uma missão, e ela é a felicidade. Devo isso às dores minhas, do outro e do mundo inteiro. 

Um comentário:

  1. Marie você está indo muito bem com sua missão, sempre me proporcionou muita felicidade, e hoje uma deliciosa surpresa. o aroma domina o quarto e é uma festa para olhos e alma. Te amo.

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