Prece
( dedicado a Marcelo Briotto, poeta de ação e letra)
(ler em silêncio)
(ler em silêncio)
Maria Cláudia S. Lopes
Sexta. Dia
de faxina, eu vazando. Queria falar sobre as dores remitentes: as físicas, as
anímicas, as dores do espírito, as que nos ensinam e nos perturbam como
fantasmas particulares. Que coisa mais mórbida, é quase noite de sexta e você
aqui na companhia deste texto? É feio falar sobre dores em dia de sexta, dia de
Oxalá meu pai, dia de usar branco e pensar em coisas boas e afirmativas. Mas
quem sabe a minha dor, alcance a sua e te faça saber que é justo falar das
dores.
Houve um
tempo em que as dores eram só parte da vida, e podiam ser confessadas, e
podíamos dividi-las sem nos envergonhar. Essa semana ouvi algo sobre a dor e
fiquei me perguntando: são todas as dores, dores de parto? E é preciso que
aceitemos o que elas querem no ensinar e só então deixamos de tê-las? Como é
possível que a gente aceite uma dor? Não gosto de dizer “tenho”, pois “ter” uma
dor é algo que exige muita responsabilidade e um apego que julgo desnecessário.
Mas há uma dor que me visita e que me faz sentir uma falta de esperança muito
grande, porque ela me faz lembrar a DOR, das dores, de todas as dores do mundo,
das dificuldades, dos desafios que impedem o nosso caminhar em direção ao
crescimento. “Eu quero vicejar, não apenas sobreviver” ( li também essa
semana). Ela me faz pensar no que fiz para merecê-la? Bem, ela também me faz
pensá-la como oportunidade de cura, ela também me faz pensá-la como mistério
inominável da vida, ela me faz lembrar de outras dores que once eu julguei que nunca iriam embora e que se transformaram em
alegrias, ela me faz pensar em meu pai.
Tenho uma
prece a fazer, no dia de hoje. Que ela seja ouvida por todos os corações. Dor
não pega, cada um tem a sua, mas às vezes perto de uma dor que não é bem nossa,
sentimos muita dor. A minha avó se chamava Maria das Dores e eu sempre tive
receio de chamá-la assim. Tenho uma prece pensada, falada, cantada, feita, e
ela parte dessa minha dor remitente, às vezes intermitente...eu espero que ela
seja capaz de reavivar para todos os dias a crença de que mesmo doendo a vida
vale a pena.
Pai
Celestial, Mãe Divina, santos de todas as religiões. Que eu consiga olhar para
as dores do mundo, as minhas e as do outro como parte da beleza e dos partos
que vivemos em vida. Que ao em vez de me enfraquecer diante dela eu possa
abrandá-la com entendimento, com amor, gratidão, sabendo que tudo se transforma
do tempo do amadurecimento de cada dor. Que ao em vez de me abater e me
entristecer eu possa cantar uma canção de ninar, para a nova criança que chega,
dando espaço às transformações necessárias, mesmo que ela volte eu possa saber
que ainda tenho a aprender com ela, e que não permita, pai, mãe, não permita
que ela me prive de todas as outras belezas e alegrias presentes em minha vida.
Peço coragem, força e alegria incondicionais, peço sorte e proteção.
Tenho uma
missão, e ela é a felicidade. Devo isso às dores minhas, do outro e do mundo
inteiro.

Marie você está indo muito bem com sua missão, sempre me proporcionou muita felicidade, e hoje uma deliciosa surpresa. o aroma domina o quarto e é uma festa para olhos e alma. Te amo.
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